sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A natureza do tempo como construção da nossa mente

Observação: neste artigo fez-se necessário eu entrar, mesmo brevemente, em assuntos da neurociência e da teoria da evolução. Nada que um estudante ou profissional terá dificuldade em compreender.

Palavras-chave: teoria da relatividade, tempo, espaço, evolução, neurociência

Estamos acostumados em nosso dia a dia a pensar sobre o tempo físico, em sua “passagem”, a partir do aqui e agora com relação a algo ocorrido há minutos ou horas. Também pensamos nesse aqui e agora com relação a alguma tarefa, acontecimento, etc., que virá a alguns minutos, horas ou dias. A lembrança “como o tempo passou rápido (ou lento)” é muito utilizada para a primeira frase e pensamos no passado e futuro, distantes ou não, em qualquer instante de nossas vidas. Tudo isto é corriqueiro para nós.

Podemos chamar de evento qualquer acontecimento na natureza em que nos permite demarcar um instante inicial e um instante final desse próprio acontecimento. Isto facilitará os meus argumentos neste texto. Como exemplo, pense em uma pessoa passando a sua frente enquanto está sentado, seu referencial, e, após alguns segundos, ela já percorreu alguns metros apressadamente, ou seja, um instante onde você percebe a pressa do indivíduo. Entre o instante final do movimento onde é demarcado uma posição dele por você, uma certa distância até onde você se encontra, desde o instante inicial da sua observação do movimento, o chamado intervalo de tempo, você percebeu a passagem do tempo. E assim o é para muitos fenômenos, em laboratório ou não, onde se mede o tempo decorrido entre dois eventos: a velocidade de um automóvel, o movimento de uma esfera em um plano inclinado, a queda de um objeto, etc.

E por mais estranho que possa lhe parecer, os fenômenos químicos e biológicos, seus eventos, também nos proporcionam o transcorrer de algo… O tempo. Nosso coração pode estar batendo rápido e uma reação química em nosso estômago cheio, estando lenta, prejudicará a nossa digestão.

Algo acontece junto com o decorrer do tempo onde muitas vezes nós não nos damos conta: sentimos o transcorrer do tempo além da compreensão da pura lógica de números se modificando em relógios. Ele também se manifesta como um sentimento.

Mas existe outros modos de sentirmos o tempo. Olhe fixamente para um objeto em repouso sem se desviar dele ou feche os olhos, imagine uma cena e depois outra. Imagine uma só cena ou tenha um pensamento. Ou não imagine nada ficando sem pensar em nada: você sente a passagem do tempo. Até nos sonhos esse fenômeno é percebido. Não há problema em chamar estas situações de eventos; apenas não são materiais. Então uma definição de tempo seria:

“O tempo é a sensação de algo que transcorre quando de um ou dois eventos, ou mais.”

Definir o tempo em uma só frase é algo difícil de se realizar. “Sensação de algo que transcorre” compreende a nossa percepção, sentimento e o intervalo do próprio tempo. “Quando de um ou dois eventos, ou mais” eu defini no segundo parágrafo.

O físico e matemático inglês Isaac Newton (1642/43 - 1726/31) disse sobre o tempo: “O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si mesmo e da sua própria natureza, flui uniformemente sem relação com qualquer coisa externa.” Para ele o absoluto se referia ao fato de que a passagem do tempo não era afetada por nada, fato que intuitivamente pensamos  ser assim. Mas a Teoria da Relatividade de Albert Einstein (1879-1955) disse não a essa ideia, mostrando que o tempo depende da velocidade entre vários observadores e os objetos sendo observados.

Se não existe um fluxo temporal absoluto sem relação a nada no universo, nós medimos o tempo subjetivamente com diferenças entre vários eventos. Se não mediríamos um só: o absoluto igual para tudo!

Na relatividade de Einstein dois ou mais observadores medem tempos diferentes para eventos onde a percepção dos mesmos chegam até eles através da luz emitida e/ou refletida desses eventos. Mas podemos perceber um intervalo de tempo entre dois sons distintos onde o nosso cérebro não utilizará as mesmas regiões cerebrais para essa tarefa. O mesmo aconteceria com o olfato, audição, paladar e tato, nossas entradas de estímulos provenientes do meio ambiente e que são a base da realidade por nós concebida. Na natureza não existem cheiros, sons, sabores etc.

A evolução está por trás de tudo já mencionado. Qual não seria a vantagem para um ser humano caçador-coletor em calcular para onde fugir de um predador em um menor intervalo de tempo possível? E isto é apenas um exemplo de muitos que poderíamos imaginar. Mas note que também o espaço é relevante em ações como essas e temos uma ótima noção de comprimentos, larguras e alturas processados em nosso cérebro. Sentimos e compreendemos também a noção de espaço.

E na relatividade, na natureza, espaço e tempo caminham juntos, descritos na famosa expressão espaço-tempo, como Einstein mostrou em sua relatividade geral, e cientistas como Steven Hillyard, da Universidade da Califórnia, descobriu que eles não são processados como aspectos da realidade de acordo como nós os concebemos e sim como processos mentais sem variáveis específicas, temporais e espaciais (Scientific American Brasil, s. d.). Eles são realmente construções de nossos cérebros! (Deixo para comentar sobre o espaço em outro artigo).
Referência bibliográfica:

Scientific American Brasil. Marcus Vinícius C. Baldo, André M. Cravo e Hamilton Haddad Jr. Disponível em  < http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/mascaras_do_tempo.html >. Acesso em: 02/09/2016.